terça-feira, 4 de outubro de 2016

Com medo de roubos, motoristas de caminhão escondem cargas

Rapaz, eu desconfio de todo mundo. Do cara que toma café do meu lado, de quem me pede uma informação no posto e até de você, com esse bloquinho aí, já estou desconfiando. Quem me garante que você é jornalista mesmo e não está aqui para roubar meu caminhão?"


Quem fala é o caminhoneiro Evanil Domingues, 54, sentado no banco do motorista de sua carreta, em um posto de serviços cheio de caminhões em Guarulhos, na Grande São Paulo.

Evanil estava indo para Fortaleza carregado de materiais eletrônicos -uma das cargas mais visadas, segundo as transportadoras. 

Para tentar evitar assaltos, caminhoneiros vigiam até a sombra. Só param em postos grandes e movimentados, evitam passar por rodovias mais perigosas durante a madrugada, andam em comboios e não gostam de revelar o que transportam.


"Vem uma pessoa, toma um café com você, começa a te fazer perguntas sobre sua carga, você conta. Depois, na rodovia, ela te fecha e leva tudo", explica Evanil.

"Não é nem atenção 100%. É tensão mesmo. Você acha que todo mundo quer te roubar", lamenta o motorista, que há sete anos foi assaltado em uma estrada na divisa entre Sergipe e Alagoas.
Na ocasião, ele também carregava uma carga de equipamentos eletrônicos.

Foi fechado por uma caminhonete e rendido por bandidos armados. Os ladrões levaram sua carga enquanto ele ficou horas amarrado, com um revólver apontado para a cabeça. O caminhoneiro foi largado em um terreno baldio no interior de Alagoas.



Depois, teve de provar que ele não tinha nenhuma participação no roubo de que foi vítima. "Quando assaltam um caminhoneiro, ele vira o principal suspeito."

A polícia e uma seguradora enviaram agentes para investigar sua vida: entrevistaram parentes, vizinhos e amigos de Osasco, cidade onde mora na Grande São Paulo.

"Ninguém está nem aí para o caminhoneiro, para o trauma que ele passou, só pensam na carga e no dinheiro perdido", diz Evanil.


Redação: A Casa dos Estradeiros

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